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A saga do calouro José: cinco anos de expansão e a greve dos professores

Assembleia Geral dos Estudantes (24/05)

Esta não é uma história de amor.

Desceram do ônibus intermunicipal, apressaram-se como todos que estavam ao redor deles. Outrora calouro, o José, agora já veterano (há quatro anos) mostrava sua indignação diária à Fátima em relação à Universidade Federal de Sergipe. “Estou sem aguentar, entrei aqui achando que ia conseguir um diploma para trabalhar num lugar melhor. Moro no interior da Bahia, tenho que ajudar meus pais, mas só tive desgosto. No meu curso falta tudo”.

Fátima não tinha uma realidade muito diferente da de José. Ambos viram na universidade um lugar a mais para garantir um futuro melhor para si e sua família, porém, ao chegar à UFS, não sabiam se iam conseguir estudar. Isso, estudar. Além da falta de professores, não tinham laboratórios, livros, tinham que pagar um alto valor com Xerox e no Campus onde estudavam não tem nem restaurante universitário, nem creche, sem falar que para chegar lá, gastam muito com transporte.

Foram forçados a parar. Nem precisaram de uma deflagração de greve nacional para isso. Foram forçados a parar porque não tinham como manter seus estudos sem trabalhar para se alimentar, para pagar transporte, para pagar o material que falta no curso. Foram forçados a parar porque trabalhavam e não tinham disposição para estudar no final do dia, já que trabalham para garantir o que um setor público não garantia a eles.

Neste dia, mesmo dia igual a outros – de descer de ônibus, de apressar-se para uma aula que estava sem professor há dois meses, de indignar-se – passaram por um grupo de estudantes, os quais, sentados em roda, diziam algumas coisas sobre “precarização da educação pública”. “Hoje, sentimos no dia a dia as contradições da expansão impostas pelas políticas do Governo Federal. Claro, muito importante que a universidade se expanda, é por isso que lutamos há décadas, mas se ela não garante condições estruturais e pedagógicas para que os filhos e filhas da classe trabalhadora permaneçam, ela vai fazer o processo inverso: vai expulsar justamente aqueles que não têm condições materiais de se manter”, falou um daqueles.

Fátima e José pararam ali mesmo, parecia que aquele grupo dizia sobre o que viviam todos os dias. Aquela gente que nunca viram debatia o porquê de a UFS estar deste jeito. Jeito de apagar sonhos, de desestimular o conhecimento, de fazer gente desistir de estudar, jeito desajeitado. Continuaram a ouvir:

“Só que isto não acontece só aqui, acontece também nos outros campi, no ensino à distância e em outras Instituições do Ensino Superior, Brasil a fora e à dentro. Tudo isso porque nacionalmente temos um projeto de educação que estabelece estas condições. No caso das instituições federais, a reforma universitária se deu pelo Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni, e do Ensino à Distância. A forma como ele estabelece isso, por exemplo, é não priorizando um aumento do investimento público para a educação também pública. Hoje, em torno de 4% do PIB vai para o setor. Mas nós, estudantes e professores, queremos 10% e para a educação pública. Além disso, priorizam a contratação de professores substitutos que não fazem pesquisa e extensão”, continuou.

Os dois franziram a testa sem entender direito. Daí, Fátima logo levantou o dedo e perguntou sobre isso da pesquisa e da extensão. Os que debatiam surpreenderam-se e responderam com empolgação: “se eles não fazem nem pesquisa nem extensão, a universidade acaba por perder sua função social, ou seja, sua função de produzir conhecimento referenciado pela sociedade. Ainda tem mais: com isso, os poucos professores efetivos se sobrecarregam, são explorados, por vezes mal remunerados. É um dos motivos porque 44 instituições de ensino superior estão com seus docentes em greve”.

O que os estudantes têm a ver com isso?

Uma das pautas de reivindicação dos professores remete à valorização e a melhoria das suas condições de trabalho, que vem prejudicando as universidades públicas ao não garantir o ensino, a pesquisa e a extensão de qualidade. Outro ponto reivindicatório importante refere-se aos 10% do PIB para Educação Pública, que é uma luta de vários movimentos em favor de um maior financiamento à educação brasileira. Neste caso, a luta dos professores representa uma luta de toda a educação e da UFS!

Partindo desta avaliação, os estudantes da Universidade Federal de Sergipe aprovaram na Assembleia Geral dos Estudantes - cerca de 200 participaram - realizada no dia 25 de maio de 2012 no Campus São Cristóvão, o apoio à greve dos professores federais. Além do apoio à greve, encaminhamos um Comando de Mobilização Estudantil (COME), sendo este um grupo formado por estudantes de diversos cursos que estarão mobilizados durante esse tempo de greve, discutindo nossa Educação e Universidade, através de aulas públicas, debates, vídeos e intervenções.

Devemos estar nesse momento ao lado dos trabalhadores, compreendendo que a sua luta é justa e nossa também, estudantes. Portanto, entendemos que a nossa atuação deva se dar em conjunto com os professores, juntando-se a eles nessa trajetória. Reforçamos o chamado a todos aqueles que acreditam que outra UFS é possível para participarem do Comando de Mobilização Estudantil e de nossas próximas atividades.


Como a Assembleia Geral estudantil foi aprovada

É importante ressaltar a participação, na assembleia, de mais de 40 cursos, com estudantes dos campi de São Cristovão, Lagarto e Laranjeiras. Outro ponto necessário a frisar é que este espaço de discussão democrática deveria ser frequentemente realizado pela instância máxima de representação estudantil, o Diretório Central dos Estudantes (DCE).

Contudo, não é o que acontece há quatro anos. Tanto o é que a assembleia foi impulsionada no Conselho de Entidade de Base (CEB) - outra coisa que o DCE deveria realizar. Este aconteceu no dia 15 de maio, a partir de uma convocação dos conselheiros universitários discentes, Leidivaldo, Pedro Henrique e João, a fim de discutir amplamente os programas de assistência estudantil propostos pela pró-reitoria do setor.Como nesse meio tempo ocorreu a greve, os estudantes, representados por mais de 50% dos centros ou diretórios acadêmicos, impulsionaram do CEB a assembleia geral, com as pautas 'assistência estudantil e greve docente'.